10 de ago. de 2010

O bem amado

O filme retrata um Brasil da época de Dias Gomes e mostra que muito pouco mudou na situação política brasileira, principalmente nas pequenas cidades do nordeste. A cidade é Sucupira, um município pacato onde nada acontece. Odorico Paraguaçu (o Lineo Marco Nanini) é empossado prefeito da cidade depois do assassinato (por Zeca diabo) de seu antecessor. Como principal obra de seu mandato anuncia a construção de um cemitério para a cidade. Para angariar fundos do projeto megalomaníaco, tem que fazer uma série de concessões, desviar recursos e subfaturar o preço da obra. Nada muito diferente de hoje em dia. Inclusive, para econimizar cimento, as covas são feitas em tamanho reduzido, onde só cabem anões.
Seu maior fiscal é a imprensa local, de propriedade de um aspirante a político (o chefe do Lineo na repartição) que não mede esforços, legais e ilegais, para atacar o prefeito. Chega a inventar (com foto montagem e tudo) que existe um tubarão nas praias da cidade para espantar os turistas e reduzir a arrecadação municipal, prejudicando o prefeito. Ou seja, ninguém dá ponto sem nó. Ao trancos e barrancos, berros e gritarias, o cemitério fica pronto. Porém, como a cidade é tranquila demais, ninguém morre e a inauguração nunca acontece. Odorico passa a ter que administrar a pressão da imprensa local, a contratação de um moribumdo candidato a inauguração de seu cemitério, sua filha moderninha avançadinha e descolada que chega a cidade e as 3 cajazeiras solteironas, todas pretendentes ao seu coração, que não lhe dão descanso.
O filme, uma sátira política, faz muitas analogias entre Sucupira e o Brasil: no início faz comparações com o governo Jango e no final, com o movimento de Diretas Já.  É um roteiro meio pastelão, meio Grande Família, meio Zorra Total, Tv Pirata...  Peca no excesso de informações (como se isso pudesse segurar a atenção do espectador). Funciona, mas depois cansa. Até porque ninguém consegue absorver tanta informação em tão pouco tempo. Reduziram um novela com vários capítulos em um filme de 2 horas. Não há momentos sem informação, quando não há o texto carregado de Odorico, uma metralhadora verborrágica com seus neologismos e exageros característicos, aparecem as cajazeiras, a imprensa, a população... Quando os atores silenciam, entra a narração, colocando mais informação. Quando ninguém fala, Caetano canta, reforçando o texto da cena. A música ocupa todo o tempo morto que se podia ter no filme e na mente do espectador. O filme não pára. Para quem tem mais de 40 a sensação é ainda pior: além do cérebro já não ter velocidade para tanto processamento ainda ficamos simultaneamente comparando com a versão do Paulo Gracindo. Mas é uma diversão leve pra quem não quer pensar muito, uma típica comédia para TV.

Classificação:
Lágrimas: 00
Bocejos: 00
Gargalhadas: 05
Cena marcante: a cajazeira bêbada na sacada da prefeitura.
Saí: tentando me lembrar de tudo que ouvi.
Bom para: quem gosta da Grande Família.
Se não viu: espere, vai passar na tv, quinta-feira a noite.